A Coragem para se ser quem se é

FLUTUANDO ENTRE MUNDOS

Manipulações invisíveis.

Jogos de culpa, quais sugestões pós-hipnóticas subliminares.

Raciocínios de maquiavel e astúcia sibilina.

Insinuações transparentes no éter, mas molhadas, que as pessoas jogam umas com, e contra as outras, sem as mãos.

Tudo isto encoberto por uma enorme camada de medo e de milhões de acordos tácitos assinados por todos os cobardes ao longo dos tempos; a sensibilidade de um artista pode toldar-lhe a fama mas não deve toldar-lhe a clareza da visão.

Ser fiel a si próprio é um desafio extraordinário num mundo de acordos implícitos, em que toda a gente anuiu em manipular-se subtilmente, sendo que todos o fazem, todos o sentem, todos o reconhecem e ninguém fala nisso. (...) Ninguém ousa expressar emoções de vida. Aguenta-se. Carrega-se. Suporta-se. Tolera-se. Aguenta-se. Aguenta-se. E disfarça-se.

Não nos atrevemos a expressar vida ou sentimentos, honrando a Coragem que exige sermos fiéis a nós próprios, porque corremos o risco de assustar os outros, afastá-los, levá-los a abandonarem-nos. (...)

É verdade que em bebés, o abandono é a garantia da morte. Como adultos, no entanto, ser-se abandonado significa somente ser deixado a sós com a sua própria manipulação e a frustração da sua própria impotência. Sozinhos com nós próprios, o resultado final do ciclo anterior e o motor inevitável da próxima fuga para a frente: o paradigma do que é intolerável numa era de transição da manipulação emocional inconsciente para o apelo da Liberdade enquanto mais e mais irmãos de jornada despertam para a realidade da Alma.

E por isso, por esse mesmo medo não nos denunciamos nas nossas manipulaçõezinhas vis e subtis mútuas. Estamos todos ligados... mas enquanto não despertamos para a Alma não é pelos corações que nos unimos; é pelos sentimentos de medo e pelas frequências mentais semelhantes. A esse nível também somos uma unidade, mas uma unidade inconsciente... um enorme gigante adormecido, com o sol fraco em cada uma das células, brilhando no fundo das águas. Porque a verdadeira Unidade é consciente e implica rasgar, romper e evaporar essas águas, conquistar o poder de um Sol pessoal que brilha acima, apesar das águas, e será sob essa Luz que a verdadeira Unidade poderá voltar a ser conquistada.(...)

Mas no mundo da inconsciência das Águas, o acordo global do medo, da conivência, da concessão assustada e prevenida de um Sol apagado, é um drama colectivo de resposta individual. Para sobreviver dentro da matriz são necessárias estratégias de sobrevivência, e isso não é ainda a verdadeira Vida. "Eu tolero a tua manipulação, não porque tu me enganas - nunca me enganaste - mas para poder, eu próprio, continuar a manipular-te a ti" (e compensar-me assim energeticamente pelo facto de te permitir a ti manipulares-me a mim). Eu mordo no teu pescoço, e tu mordes no meu. O acordo de vampiros perfeito. Toda a gente se drena. Ninguém se denuncia. Chupai, chupai, como se não existisse amanhã.

E todo o desespero frenético de tentar culpabilizar os outros pelos nossos próprios sentimentos, como se nos aliviasse a dor demitirmo-nos da sua autoria ou quiséssemos entregar ao outro a responsabilidade de no-la curar, não é uma solução - é um problema acrescido. Quanto mais acreditamos que o outro nos está a "causar" o que sentimos ou pensamos, mais perdidos estamos do poder pessoal - não aquilo a que uma Humanidade adormecida chama "poder pessoal" como sombras da força física ou inteligência concreta, o património do mecenas, o dinheiro do milionário, o magnetismo da beleza rara, a quantidade de diplomas, tatuagens ou lobbies.

Mas o poder pessoal que é a primeira portagem. O que antecede, e sucede, a consciência. O poder de criar. O poder de amar. O poder de servir.

Urge ir além das grandes águas, essas que nos mantêm submersos e aquém do nosso próprio poder, do nosso próprio e divino-eterno Sol interno.

"... dos céus caiu uma estrela e os homens morreram das águas, que se tornaram amargas" (no Livro do Apocalipse)


© Nuno Michaels

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